De Gladis Costa
As mulheres sempre tiveram o poder de
decisão no momento da compra. Durante muitos anos elas foram
responsáveis pelo orçamento do lar, isto é, decidiam como o dinheiro
seria gasto. O que mudou de lá pra cá: Elas continuam tendo esse poder,
respondendo pela decisão de compra de material escolar,
eletrodomésticos, lazer, alimentação, móveis e imóveis.
Hoje, além de decidir o que comprar, a
mulher gera receita e muitas vezes é chefe de família, uma
responsabilidade para 22 milhões de mulheres no país, pelo menos. A
população feminina é de aproximadamente 100 milhões, dos quais 55% fazem
parte da nova classe média. Há 11 anos esse percentual era de quase
39%. É uma renda de quase R$ 720 bilhões, um valor nada desprezível!
Além de roupas, acessórios e maquiagens,
as mulheres querem comprar telefones sofisticados, notebooks mais
poderosos, carros com design arrojado e máquinas fotográficas fáceis de
usar, por exemplo.
Quais são os atributos que elas procuram nesses
produtos?
Uma pesquisa realizada pela Sophia Mind, empresa especializada
em estudos sobre comportamento feminino, concluiu que elas procuram o
melhor preço, segurança, garantia, funcionalidades agrupadas, algo que
elas possam usar em casa, no trabalho, no lazer e que possam
compartilhar com a família.
Elas pesquisam preços na Internet e
também no site do fabricante para tirar dúvidas sobre o produto. Com
tanta informação em mãos na hora de comprar tecnologia, por exemplo,
sabem que precisam de um produto que apresente qualidade/performance de
som/imagem, facilidade de uso, capacidade de armazenagem, velocidade,
acesso à Internet e design moderno e atraente. Sites de compras, TV e o
próprio site do fabricante são os grandes aliados em fornecer várias
informações que podem, finalmente, levar à compra do produto.
Se as empresas desejam conquistar esse
poderoso mercado potencial com alto poder aquisitivo e autoridade para
decidir sobre o que, quando e como comprar, terão de criar produtos
diferenciados que conquistem essa nova mulher. Para a área de marketing
não é difícil entender o que as mulheres querem, a pesquisa é muito
clara e certamente auxilia os profissionais em suas estratégias de
criação e desenvolvimento de produto, mas restam outros desafios que as
empresas precisam vencer para conquistar as mulheres. Desafios que estão
ligados à manufatura do produto, à área que vai transformar as ideias
em um produto tangível, real e desejado.
As empresas precisam considerar que os
hábitos de compra de homens e mulheres são bem diferentes. Por exemplo:
86% das mulheres checam o preço de um produto antes de comprar, enquanto
apenas 72% dos homens fazem o mesmo. As mulheres analisam o produto
antes de comprar, exigem mais, perguntam mais, são mais cautelosas. Por
isso quando estão juntas, gastam em média mais de 8 horas para fazer as
compras, quando estão na companhia de homens, este tempo cai pela
metade. É preciso garantir, então, que quando o produto estiver no
mercado, encontre adesão do público alvo, seja bem recebido.
Vamos pensar em três produtos que
representavam o desejo de consumo das mulheres em 2010: 45% das
entrevistadas em uma pesquisa planejavam comprar TVs de alta definição,
29% estavam interessadas em notebooks e 25% desejavam comprar uma câmera
fotográfica digital.
Se pensarmos na TV por um momento, vamos
concluir que quem compra o produto quer receber o mais rápido possível.
Quão pré-configurada esta TV se encontra? Será que é preciso um
cientista da NASA para ligar e configurar, fazer o produto funcionar?
Isso é feito na chegada do aparelho ou alguns dias depois, porque
normalmente queremos abrir a embalagem, ligar e assistir à TV ou será
que temos que esperar até que um técnico agende uma visita e faça sua
mágica?
É um serviço pago? No caso de ser um
produto simples e autoexplicativo, a TV contém um menu e é possível,
seguindo as instruções, fazer com que ela funcione? Ou precisamos
daqueles manuais extremamente técnicos, em uma língua híbrida, algo
parecido com português/espanhol, escritos por PhDs em Engenharia que
acham que seremos capazes de entender sua linguagem hermética?
Manuais normalmente são escritos por
quem desenvolveu o produto, baseados em seu conhecimento e experiência,
não pensando em quem vai usar. Isto é um problema sério, e é por isso
que poucas pessoas leem manuais, mulheres praticamente nunca. Por que
são tão longos e complexos? O mesmo ocorre com notebooks e câmeras
fotográficas. Na loja tudo é maravilhoso, quando você abre a embalagem,
bom, aí você pode ter uma agradável surpresa. Se ele funcionar como
explicado pelo solícito vendedor, claro!
Isso nos faz refletir sobre os produtos
que encontramos no varejo e como alguns fabricantes atingem seus
objetivos de negócios com produtos que consistentemente trazem receita a
esta empresa, ou seja, são sucesso. Ou porque, por outro lado, empresas
lançam produtos que acabam fadados ao fracasso? Não acredito que seja
por falta de capacidade ou informação.
Como as empresas podem obter uma
extraordinária receita com a venda de seus produtos? Eu diria que
existem várias maneiras. Elas podem aumentar a participação em seu
mercado com produtos focados no cliente. Podem vender mais produtos para
o mesmo cliente, se encontrarem um nicho de mercado que não está sendo
atendido ou atendido de forma inadequada.
Podem ter receita contínua se venderem
um produto que gere serviço. Aqueles que têm uma impressora sabem porque
a impressora não é tão cara, considerando o custo dos cartuchos. Aí sim
a fonte de receita é contínua. Você usa cartuchos o tempo todo. Você
pode ter um computador para o qual tenha que baixar aplicativos pagos
pelo download. Nesse caso, o notebook em si é apenas um meio pelo qual
seu produto vai ser utilizado e pago.
Também as empresas podem proteger o
produto em termos de território. Todos sabem a vantagem competitiva em
chegar primeiro ao mercado. É o que chamam de go-to-market strategy,
lembrando que aqui valem os conceitos ligados ao lançamento de produtos,
público alvo, preços, treinamento de vendas, ou seja, quão preparada a
empresa se encontra para acessar o mercado ou abranger apenas a
estratégia de vendas: direta ou por intermédio de canais.
Outra forma de aumentar as vendas de um
produto é melhorar a capacidade de atendimento. Por mais que um local
tenha fila para entrar ou você fique na fila para comprar um produto,
não significa que o local ou o produto sejam um sucesso, não no sentido
de trazer satisfação ao cliente.
Quem quer ficar numa fila sabendo que lá
dentro, a alguns metros, alguém está se divertindo a valer ou que no
caso de um carro, por exemplo, ainda que você tenha dinheiro, não pode
comprá-lo, porque o produto tecnicamente não está disponível, ou não
existe. Já é uma experiência frustrante você querer ter algo que não
pode comprar, mas não poder comprar porque ele não está disponível deve
ser muito mais desapontador.
Design é um fator importante,
especialmente para o público feminino.
Um carro, por exemplo, tem que
ser seguro, desenvolver uma quilometragem muito boa na cidade ou na
estrada, mas quem liga, de fato? Temos uma média de mercado: ele deve
fazer um “x” km/litro, mas quem fica duas horas no trânsito para chegar,
não acha essa questão tão relevante. Afinal é complicado viver sem
carro, mas um carro bonito, que encontre adesão no estilo de vida da
mulher, que tenha os acessórios dos quais ela gosta, um bom porta-malas,
que seja gostoso de dirigir, ofereça conforto, vários espaços para
objetos (porta-trecos), cores interessantes e espelhos, muito espelhos.
Bem, este é o campeão, porque aqui a emoção feminina se mistura com a
razão, não tem jeito.
As oportunidades de cativar e fidelizar
um cliente são grandes, mas para criar esse relacionamento de lealdade é
preciso que as preferências/necessidades do cliente sejam entendidas,
atendidas e superadas. Aí será um casamento para a vida toda, porque se
somos encantadas diariamente com o que temos em casa, quem quer saber de
outro fabricante?
Gladis Costa é gerente de marketing e comunicação e fundadora do grupo Mulheres de Negócios no LinkedIn.
Publicado originalmente no BDxpert
Nenhum comentário :
Postar um comentário