05 março 2019

10 princípios para o design na era da IA

 O campo do design está à beira de uma nova era. Se há alguns anos tínhamos a área focada em apenas duas dimensões, gráfico e produtos, agora os designers estão cada vez mais focados em outras áreas, guiados pelos avanços tecnológicos em inteligência artificial, robótica e internet das coisas. Na linha do que já foi feito no passado por outros designers, como Dieter Rams e os 10 princípios de um bom Design, o premiado designer suíço Yves Béhar, uma referência no campo do eco design, desenvolveu os 10 princípios para o design na era da inteligência artificial. 

Confira abaixo a lista.

1. O Design resolve um problema humano

Qual é a nossa intenção no mundo? Essa é uma pergunta importante que Yves Béhar levanta sobre o propósito do Design. Em um mundo cheio de engenhocas sem sentido, como ele mesmo chama algumas inovações que não melhoram a vida das pessoas, o Design precisa resolver problemas humanos. O suíço afirma que, ao desenvolver o berço inteligente Snoo, visava apenas um problema: a falta de sono de pais com filhos pequenos.

2. O Design está em um contexto específico

Se você já viu os robôs domésticos atuais, eles são brancos, bonitinhos e com olhos arregalados. “Por que precisamos antropomorfizar esses tipos de máquinas?”, pergunta o designer. De acordo com Yves Béhar, ir além desses clichês culturais desgastados, ao invés de colocar o contexto em primeiro lugar, será um ponto importante para os designers que trabalham com objetos verdadeiramente “inteligentes”.

3. O Design melhora a capacidade humana (sem substituir o humano)

Os robôs são tecnologias cada vez mais presentes. Mas eles são projetados para melhorar nossas habilidades humanas, e não nos substituir. Partindo desta ideia, isso incentiva os designers a pensarem como os produtos podem ajudar as pessoas de maneira ponderada, em vez de tentar reproduzir as capacidades humanas. Béhar possui um ótimo exemplo deste princípio. Ele trabalhou com a startup SuperFlex para projetar um macacão de apoio, que usa músculos sintéticos e elétricos para aumentar os diferentes níveis de mobilidade em pessoas idosas, em vez de substituir completamente sua força natural.

4. Um bom Design funciona para todos e todos os dias

Esse princípio lembra um pouco as ideias de Dieter Rams (confira neste link). Yves Béhar ressalta que nem todos os consumidores são amante da tecnologia. “Com a inovação em casa, o que normalmente acontece é que a pessoa que a instalou a adora e todos os outros em casa a odeiam”, afirma o designer. Por isso, o bom Design precisa ser natural, fácil de ser instalado/usado e de se conviver com ele.

5. Um bom Design é discreto (e a tecnologia também)

Com a ascensão da internet das coisas, é comum vermos aplicações tecnológicas em produtos que antes eram majoritariamente analógicos. Um ótimo Design é discreto e natural. Quando integrado com novas tecnologias, o Design torna-se algo quase invisível e não precisa ficar lembrando as pessoas ao seu redor de que está lá.

6. Um bom Design é uma plataforma que melhora com as necessidades e oportunidades

Quando você está projetando algo com inteligência artificial, você está projetando um sistema que aprende e cresce, com funcionalidades que podem mudar com o tempo graças às atualizações de software. Os novos produtos e serviços não são mais imutáveis, eles podem ser reformulados, adequados e adaptados de acordo com o cenário. Pense, por exemplo, em um sistema que classifica processos jurídicos. Se uma lei muda, ele pode se adaptar, do contrário, se tornaria obsoleto.

7. Um bom Design faz com que produtos e serviços construam relacionamentos de longo prazo

Somado ao sexto princípio, já que um serviço/produto é mutável e se adapta com o tempo, ele passa a ter uma curva de vida muito maior. Isso faz com que ele crie relacionamentos de longo prazo (mas não deve criar uma dependência emocional). Vale dizer que esse relacionamento cria fidelização e confiança em serviços e produtos. Pense, por exemplo, no sistema de declaração de imposto de renda brasileiro. Por mais que seja obrigatório, o sistema construiu um relacionamento com seu público. O que antes era visto com desconfiança, principalmente pelos mais velhos, hoje é utilizado por grande parte da população brasileira.

8. O bom Design de tecnologia aprende e prevê o comportamento humano

Por trás de todas essas tecnologias, serviços e produtos existe algo que é igual em todos os cenários: a existência de uma pessoa consumidora. A medida que as inteligências artificiais se integram lentamente em nossas tecnologias, produto/serviços não apenas têm a capacidade de aprender, como também podem prever o comportamento humano de uma maneira que melhor sirva ao usuário. Sabe aquela tecnologia presente na sua conta do Netflix que sugere séries e filmes de acordo com seu gosto? No futuro (próximo) podemos pensar soluções como, a resolução de problemas públicas por meio de aprendizado. Pense em uma cidade inteligente, por exemplo. Quando falta luz em um determinado bairro, o sistema já saberia identificar quais as necessidades padrões e agilizaria o processo. Ele poderia, por exemplo, limitar o número de ocorrências policiais/médicas direcionadas para um batalhão policial ou hospital, a fim de manter unidades de “plantão” para aquela região sem energia elétrica.

9. Um bom Design acelera novas ideias

Yves Béhar acredita que a verdadeira inovação pode ser impulsionada mais rapidamente nas mãos de um grande designer. Essa, na verdade, tem sido uma previsão de vários estudos no campo dos recursos humanos. Por terem se tornado “resolvedores de problemas”, os designers têm sido visto como profissionais estratégicos em diversas áreas e já são cogitados para serem os “próximos CEOs”, assumindo cargos estratégicos e executivos, tomadores de decisão no âmbito da inovação.

10. Um bom Design elimina a complexidade da vida

Em resumo, um bom Design resolve problemas e facilita a vida humana. Existem muitas tarefas diárias comuns nas quais as pessoas ainda são muito mais hábeis que os robôs. Mas também há tarefas nas quais os computadores são muito melhores, e essas são as áreas nas quais os designers devem se concentrar. A pergunta que os designers devem fazer é: o que é uma experiência corriqueira e qual é uma experiência significativa, e qual o papel que a inteligência artificial deve desempenhar em cada uma delas? A inteligência artificial pode remover alguns pontos problemáticos da vida, reduzindo a complexidade e liberando espaço cognitivo das pessoas, para que elas possam se concentrar em empreendimentos mais importantes.

De Tellus

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