15 junho 2018

Um designer brasileiro na Umea

Imagem do LinkedIn do designer


Neste post entrevisto o designer Alexandre de Bastiani , ele está fazendo um mestrado (MFA - Masters in Fine Arts) em "Advanced Product Design" na "Umea - Institute of Design". A Umea como disse ele, é para o design o que é Harvard para economia. Como designer e conhecendo a Umea, fiquei curioso sobre a sua experiência e gentilmente ele respondeu as minhas questões abaixo:

Mestrado na Europa
Os programas de mestrado na Europa não são como no Brasil. O "Master Degree" é comparável à pós-graduação Lato Sensu, a boa e velha especialização. Meu master é em Advanced Product Design e é extremamente baseado na prática do Design, não é nada acadêmico. Mas a escola possui um programa de doutorado, esse sim completamente acadêmico. A grande diferença de um Master europeu para uma especialização é que enquanto esta possui uma carga horária baixíssima, o Master exige do estudante 2 anos "Full-time". Não há possibilidade de trabalhar e estudar ao mesmo tempo.


 Porque você escolheu o Mestrado e o tema especifico lá? 
Eu estudei Design na PUCPR e, durante um período de férias, fiz um intercâmbio em Londres a fim de estudar inglês. Lá, eu tive a oportunidade de conhecer a Royal College of Art (RCA) e, a partir daí, comecei a alimentar a vontade de, após me graduar, estudar lá. Porém, ao começar a pesquisar sobre o ensino do Design naquela Universidade, comecei a perceber que meus interesses como profissional não se encontravam com aquilo que a RCA tem como foco. Por conta disto, passei a pesquisar por universidades que compartilhavam dos mesmos interesses. Foi neste ponto que me deparei com o UID (Umeå Institute of Design) e decidi que um dia estudaria aqui. Acho que o momento em que tomei tal decisão foi quando li um artigo escrito por um antigo professor do UID chamado Pete Avondoglio em que ele explica o sucesso da escola e afirma que ela é para o Design o que Harvard é para o Direito.
O programa em Advanced Product Design é tão bem reconhecido pela qualidade de seus estudantes que a relação da universidade com a indústria é muito boa, a ponto de termos todos os anos projetos interessantíssimos em colaboração com diferentes empresas ao redor do mundo. Tive a oportunidade de viajar para Polônia e Alemanha durante um destes projetos. Alunos do programa em Transportation Design foram à China para seu projeto, e assim por diante.

Como é o nível de ensino e os professores? 
Esta é a parte mais surpreendente. Não há "ensino" propriamente dito, são pouquíssimos professores e pouquíssimas aulas. Como o processo de seleção é bem criterioso - eles selecionam entre 10 e 12 alunos dentre cerca de 500 candidatos todos os anos - eles assumem que cada um de nós já é um designer de qualidade e, portanto, não há muito o que eles devam nos ensinar, apenas facilitar para que nos desenvolvamos. A estrutura da escola faz com que nós possamos evoluir pela proximidade com os professores, com os tutores externos e com os próprios colegas. Cada programa possui um estúdio no qual cada aluno tem sua própria mesa, assim há um encorajamento para que utilizemos a estrutura de forma extensiva, sem conta que, por dividirmos o mesmo espaço, estamos constantemente trocando informações e dando feedback à cada um. Por conta disso, eu passo cerca de 10-12 horas por dia na escola, o que faz uma diferença enorme.

Como são os seus colegas designers?
São mais jovens que eu, não possuem muita experiência de trabalho até por que normalmente o europeu termina o Bacharelado e já emenda o Master. De qualquer forma, são designers diferenciados, com grande qualidade em todos os aspectos do design, tanto na técnica quanto na capacidade analítica. São muito melhores do que era quando me graduei.

Como você se sente e como se ambientou como designer brasileiro? 
O fato de ser brasileiro nunca me atrapalhou, mas o fato de ser um DESIGNER brasileiro, faz a diferença. Sinto 99% daquilo que sei e aprendi veio das minhas experiências profissionais e não daquilo que recebi na academia. A PUCPR é uma das melhores universidades do Brasil, inclusive no ensino do Design, mas mesmo assim, não se aproxima ao nível europeu. Digo isso com certa tristeza pois o brasileiro têm potencial para ser melhor que qualquer europeu.
O designer brasileiro tem uma desvantagem imensa devido ao próprio ensino do design no Brasil, mas sempre há uma saída, só depende do indivíduo.

As suas impressões até agora?
Superou minhas expectativas. Esperava uma coisa e me deparei com algo melhor ainda. Em um ano a qualidade do meu portfólio aumentou 100% graças à esse sistema "anti-sistema", que propõe o projeto, disponibiliza as ferramentas, a infraestrutura e os contatos e te deixa livre para trabalhar, correr atrás daquilo que necessita e o mais importante de tudo, incentiva a tomada de decisão. Nunca o professor vai tentar tomar decisões por mim, ele pode dar suas opiniões, mas no fim, quem decide, sou eu.

Links do artigo:
Siga o designer Alexandre de Bastiani no LinkedIn
Portfólio em: My Work

Conheça a UMEA

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