11 abril 2011

Demanda aquecida para o design

Em 2003, quando Sam Lucente chegou à HP como o primeiro vice-presidente de design da companhia, sabia que poderia fazer muito pelos negócios da empresa. Sua missão era trazer uma ideia unificada sobre identidade visual para o vasto portfólio da HP que, àquela época, contava com 98 consultorias em design no mundo todo, além de 60 profissionais contratados e uma identidade visual prolixa. Sua equipe se empenhou em desenhar uma logomarca para a empresa, a ser usada globalmente, como alternativa aos diversos logos que a HP utilizava mundo afora. A unificação significou uma economia de US$ 100 milhões e redução de 25% de tempo no desenvolvimento de novos produtos. “Design pode aumentar lucros, garantir participação de mercado e fazer o negócio se tornar lucrativo”, garante Lucente.

É de notório conhecimento que o design é estratégico no processo de construção de marca. O design está na base da criação de personalidade e de posicionamento claro. Cada vez mais empresas o consideram importante para simplificar processos de produção e reduzir custos, antecipar demandas, inovar e, principalmente, desenvolver novos mercados.


Na Electrolux, que definiu design como uma de suas plataformas globais, os setores de marketing, desenvolvimento de produtos e design trabalham juntos. Pesquisas com consumidores são feitas regularmente para identificar suas necessidades mas, sobretudo, seus desejos. São as aspirações estéticas que precisam ser desenhadas e entregues ao mercado.


“É preciso design para atender às necessidades emocionais dos consumidores. A valorização estética é que traz conforto. As pessoas se sentem reconfortadas com objetos bonitos, bem acabados, seguros, que tenham qualidade intrínseca”, afirma Julio Bertolo, diretor de design da Electrolux do Brasil.


Em busca de ideias inovadoras e novos talentos, desde 2003 a empresa realiza o Concurso Electrolux Design Lab, que premia estudantes e graduados do mundo inteiro. “Procuramos ideias para serem trazidas ao mercado. Sem utilização das ideias, não há desenvolvimento”, afirma Bertolo. A empresa conta hoje com 30 designers, 23 deles contratados no ano passado. Em 2010, a Electrolux lançou dois produtos que foram destaque em premiações: a lavadora Ultra Clean, que possui tira-manchas por meio de ondas de ultrassom e o refrigerador Infinity i-kitchen, ambos desenvolvidos no Design Center Latin America da empresa, com sede no Brasil.


No caso da Infinity, identificaram que o consumidor tem o hábito de fixar recados em imãs na porta da geladeira. Desenvolveram refrigerador com painel, onde é possível adicionar informações eletronicamente, como recados e fotos. “A linha Infinity é bem inovadora. É um produto que causou frisson porque é relevante”, destaca Bertolo.
Mas mais que ferramenta operacional, o design tem sido visto como imprescindível num mercado em que apenas funcionalidade dos produtos não é mais um elemento de diferenciação. Para entender a atividade no Brasil, a Abedesign (Associação Brasileira de Empresas de Design) iniciou neste ano um mapeamento do mercado de design no País e no exterior. O material deve ficar pronto em julho, mas números preliminares indicam aquecimento da atividade: quantidade consistente de empresas do setor, de cursos de capacitação (são mais de 400 hoje, ante três até 1999), nível de reconhecimento em premiações e número de escritórios de grande porte atuando no País.


“Estamos verificando demanda histórica. A elaboração desse mapeamento tem como objetivo gerar inteligência para o mercado. O levantamento irá servir para o planejamento estratégico do setor para os próximos dez anos”, afirma Luciano Deos, presidente da Abedesign e sócio-fundador do escritório Gad’.


Embora resultado do bom desempenho da economia do País, o aquecimento indica também uma mudança fundamental no modo como empresas e mercado veem o uso do design em seus negócios. Antes atrelado a produtos de alto valor agregado, hoje precisa atender demandas de um mercado de massa, onde funcionalidade e comunicação não dão conta de diferenciar os produtos, cada vez mais semelhantes entre si. “Diferenciação só por comunicação ou função perdeu valor. A relevância está na experiência de marca”, aponta Deos.


Alecio Rossi, coordenador de design do Senac, viu essa mudança de perto em 1998, quando foi enviado à Feira Internacional de Milão para identificar as tendências do mercado. “Ficou claro que a produção industrial de design não seria sofisticada como antes e que haveria uma democratização dos meios de consumo. O design seria utilizado na reestruturação para trazer produtos mais acessíveis para uma nova classe consumidora”, afirma.


O mercado brasileiro, uma das economias mais vibrantes entre os Brics, observa crescente interesse pelo design nacional. Escritórios de mercados maduros já identificam grande possibilidade de atuação no País, que experimenta um novo ciclo em seu mercado consumidor. “Economias desenvolvidas sabem que têm possibilidades gigantes de atuação em mercados emergentes. Querem estabelecer parcerias, mas precisam entender antes o nosso modelo de raciocínio”, destaca Ricardo Leite, diretor de criação do Crama Design. “O Brasil está no radar”.

por Keila Guimarães
Extraido de Propmark

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