O design dificilmente é visto como uma prática associada a todos os campos da atividade humana. Aloisio Magalhães em suas realizações defendeu ativamente a necessidade vital do design a serviço da comunidade. Além de seu pioneirismo nesse campo, dirigiu seu pensamento e suas ações ao desenvolvimento do Brasil, assim como – por meio de sua visão política – propôs uma nova maneira de mapear e entender a cultura do país. Tendo em vista sua atuação marcante, fazendo conviver a autoridade e o artista, Aloisio Magalhães é o homenageado da 19ª edição do programa Ocupação, que acontece entre 26 de julho e 24 de agosto, no Itaú Cultural.
A exposição, que conta com a curadoria de João de Souza Leite, se desenvolve em três tempos que contemplam os diversos momentos pelos quais passou Aloisio Magalhães, o trabalho como artista plástico, como designer e como formulador de políticas públicas na área da cultura. Nascido no Recife, aos 18 anos – na Faculdade de Direito – era apontado como uma das melhores promessas da nova geração de artistas plásticos de Pernambuco. Ainda na universidade, produziu cenários e figurinos para as peças do Teatro do Estudante de Pernambuco (TEP), como Otelo (1951), de Shakespeare, e Bodas de Sangue (1955), de García Lorca.
O artista plástico. Lápis e nanquim também faziam parte do universo do artista. Desde 1949, Aloisio mantinha um ateliê, onde como pintor produzia obras abstratas animadas com motivos de sua terra, Pernambuco. “O colorido e a vibração da paisagem de sua terra era o que mais o interessava”, conta o curador. A Ocupação traz algumas produções da década de 1950, assim como revela fotos e informações das inúmeras exposições realizadas no Brasil e no exterior.
No mesmo local de seu ateliê, funcionava O Gráfico Amador, oficina criada por um grupo de intelectuais nordestinos interessados na arte do livro. O espaço era voltado ao desenho, à edição e à produção de pequenas tiragens de publicações, como Ode, de Ariano Suassuna. Em Aniki Bobo, os desenhos foram feitos antes do texto e por isso se diz que João Cabral de Melo Neto o ilustrou com seu poema. Ambas as edições fazem parte das obras presentes na mostra.
Foi em uma viagem à Filadélfia, em 1957, que Aloisio conheceu Eugene Feldman, artista gráfico experimental, e pôde se aprofundar um pouco mais nas técnicas de reprodução das grandes tiragens. Percebeu, então, a possibilidade de ampliação de sua criação a partir do design. Já de volta ao Brasil em 1960 fundou, com Artur Lício Pontual e Luiz Fernando Noronha, no Rio de Janeiro, o Magalhães + Noronha + Pontual (MNP), escritório destinado a trabalhar com arquitetura, construção civil e programação visual.
O designer. No espaço do MNP foram desenvolvidos os primeiros trabalhos de projeção do escritório na área da comunicação visual: os símbolos do 4ª Centenário do Rio de Janeiro, da Fundação Bienal de São Paulo e do Banco Moreira Salles, entre tantos outros. Em 1966, aconteceram concursos para a criação do símbolo da Light e para o desenho de novas cédulas do papel-moeda brasileiro. Ao conquistar o primeiro lugar na disputa, Aloisio consolidou sua posição no cenário da produção de design no campo da comunicação visual.
Com uma área dedicada especialmente ao design, a exposição apresenta uma diversidade de símbolos e sinais, desenhos a lápis e layouts. Entre eles estudos para a cédula de 500 cruzeiros e cartazes para o governo de Pernambuco. “Entre 1960 e 1975, [Aloisio] desenhou cerca de 70 sinais de grande visibilidade, e neles é possível notar a presença de certa característica de desenho que não reproduz de maneira muita exata o repertório do design modernista, em grande parte pautado pela geometria regular. Suas curvas são quase sempre compostas de segmentos de arcos, seus sinais juntam entrelaçados de letras e buscam, muitas vezes, uma representação figurativa. Seu registro é outro”, explica João de Souza Leite.
O político cultural. Na década de 1970, Aloisio Magalhães iniciou uma nova etapa em sua vida, seu envolvimento definitivo e formal no campo da cultura. Em 1975, criou o Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC), que visava mapear, documentar e entender a diversidade da cultura brasileira. A investigação de formas originais de criação e produção na sociedade levou pesquisadores a se debruçar, por exemplo, sobre o artesanato popular.
Cecília Londres, socióloga e conselheira do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, no texto O Centro Nacional de Referência Cultural: a Contemporaneidade do Pensamento de Aloisio destaca: “Atuar nesse processo de apropriação da cultura, tanto no sentido de produzir conhecimento quanto no que veio a ser denominado de ‘devolução’, ou seja, de devolver às comunidades, elaborado e enriquecido, o seu patrimônio cultural, definia o CNRC não como uma instituição de pesquisa, como a princípio poderia parecer, mas como um espaço de experimentação”.
Dando continuidade a suas iniciativas, em 1979, Aloisio Magalhães assumiu a direção do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Buscando retratar essa trajetória do político cultural, a Ocupação revela alguns documentos e fotos que mostram sua atuação em diversas regiões do país. Segundo João de Souza Leite, a ideia central da mostra é “não somente proporcionar o entendimento desse brasileiro, como também fomentar o debate das importantes questões sobre as quais ele se debruçou”.
Rodas de Conversa
O conteúdo da Ocupação Aloisio Magalhães serve de base para dois bate-papos – um deles ligado aos chamados “cartemas”, termo que o filólogo Antonio Houaiss cunhou para se referir a uma série de imagens geométricas que o designer fez por meio da colagem de cartões-postais. As conversas são conduzidas em português e em Libras (Língua Brasileira de Sinais).
Acesse a aba programação para conferir as datas e horários dos bate-papos.
Ocupação Aloisio Magalhães
sábado 26 de julho a domingo 24 de agosto de 2014
terça a sexta das 9h às 20h (permanência até as 20h30);
sábado, domingo e feriado das 11h às 20h
Piso Térreo
sábado 26 de julho a domingo 24 de agosto de 2014
terça a sexta das 9h às 20h (permanência até as 20h30);
sábado, domingo e feriado das 11h às 20h
Piso Térreo
Entrada franca
[livre para todos os públicos] L
[livre para todos os públicos] L
EXTRAIDO DE: Ocupação Aloisio Magalhães
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