29 dezembro 2018

Design e a Pedagogia Waldorf

"Só quando houvermos aprendido a amar a objetividade, a realidade das coisas, as coisas tal qual são, é que poderemos decidir-nos por meio de razões lógicas. Assim aprenderemos gradativamente a pensar de modo objetivo, sem preferência por este ou aquele pensamento. Nossa visão das coisas se alargará, nosso pensamento se tornará prático – não no sentido rotineiro, mas de modo tal que os objetos e fenômenos do mundo exterior é que nos ensinarão a pensar."
Rudolf Steiner
Fui convidada para escrever para este blog uma vez por mês e confesso que recebi com espanto o convite, mas me enchi de coragem e aceitei o desafio de compartilhar aqui os conteúdos que me movem e transformam. Design, educação, filosofia, antroposofia, fenomenologia, autoconhecimento, propósito, estes são alguns dos assuntos que pretendo trazer para este espaço. Vou contar aqui um pouquinho da minha tese de conclusão da formação que acabo de concluir sobre a Pedagogia Waldorf.

 
Desde que meus filhos nasceram a minha perspectiva do mundo mudou e de lá até hoje já se passaram 13 anos. Necessidades e certezas que eu tinha ruíram e desde então, junto com o crescimento dos meus pequenos professores, vou reconstruindo minha vida pessoal e também profissional.  
Na busca por uma educação que contemplasse as necessidades próprias deles, e não as que o mundo exigia, encontrei a Pedagogia Waldorf. Me apaixonei e mergulhei intensamente neste universo. O universo da Antroposofia de Rudolf Steiner e também de Johann Wolfgang von Goethe, o principal influenciador do pensamento Steinerian.
A primeira Escola Waldorf, nasceu a pedido dos trabalhadores (em sua maioria mulheres) da fábrica de cigarros Waldorf Astoria, em Stuttgart,  Alemanha, em 1919. Emil Molt, o dono da fábrica, era uma estudioso da Antroposofia e pediu a Steiner que proferisse aos trabalhadores palestras com temas educativos. Ele sonhava em conseguir uma relação mais humana e de respeito com seus empregados. Como conseqüência, surgiu entre esses trabalhadores o desejo de que seus filhos recebessem uma educação escolar mais adequada às reais necessidades do desenvolvimento humano na modernidade. Rudolf Steiner topou o desafio e junto com o empresário criaram a primeira escola Waldorf. Não posso deixar de lembrar que coincidentemente, ao mesmo tempo e no mesmo contexto social nascia, também na Alemanha mas em Weimar, a Bauhaus a primeira Escola de Design…
Ai vocês devem estar pensando, mas o que isso tem a ver com Design?
O fato é que eu fui estudar Antroposofia e o que achei foi Design; e foi de novo um encantamento, como na época da universidade, de descobrir um mundo novo.  

A universidade foi para mim um momento muito importante, assim como com a maternidade, um momento de mudança, entrega e descobertas de novas perspectivas, tanto material, como social. Na UnB pude experimentar, e tinha campo fértil, me engajei em um movimento estudantil que buscava uma educação de qualidade e sonhava com um design genuíno e sobretudo brasileiro. No Brasil o boom das faculdades particulares e a possibilidade de fragmentação do curso de design em cursos técnicos assombrava. Perdemos a batalha, mas tudo que vivi nesta época me serve até hoje. Aprendi e convivi com as pessoas que pensavam o ensino do design no Brasil e ali nasceu minha vontade de pensar sobre educação através do design.

Novamente no papel de mãe, pensando a educação para os meus filhos, me deparei com questões que antes eu imaginava serem apenas do âmbito da minha vida profissional; por exemplo, como acessar a criatividade ou como trazer a inovação em meus projetos. Aliás, características que são verdadeiras necessidades para qualquer profissional dos dia de hoje. O design é hoje visto também como forma de pensamento e de didática, que pode ser aplicado por qualquer indivíduo para enfrentar problemas do dia-a-dia.
Em minha vivência na formação em pedagogia Waldorf e em meus estudos sobre a Antroposofia, encontrei caminhos semelhantes aos que trilhei na universidade e também respostas diferenciadas para algumas das perguntas e angústias que carregava desde então.

Steiner desenhou o currículo desta escola baseado nas necessidades das crianças,  propiciando um desenvolvimento adequado a cada faixa etária nos âmbitos físico, emocional e cognitivo. Se quisermos parar somente aqui,  já poderíamos ver a "filosofia do design": Um projeto desenhado para o indivíduo; mas ainda dá para ir um pouquinho mais fundo...

Depois de um intenso estudo sobre pedagogia, didática e metodologia, mas principalmente usando como base a fenomenologia de Goethe sistematizou um método de ensino para uma escola que propõe ao aluno buscar em si as respostas para os conteúdos e problemas apresentados pelo professor. Não é uma escola para acúmulo de conteúdos, mas sim de busca criativa para os problemas apresentados.  

E ai de novo a pergunta: o que isso tem a ver com design?
Para mim tudo. Steiner propõe através dessa pedagogia um caminho de encontro com a essência criativa de cada um. Entendo que a criatividade é busca diária na vida profissional do designer,  aliás repito, de todo profissional pensante, eu encontrei na Antroposofia uma proposta diferenciada para essa busca.

A Pedagogia Waldorf parece uma grande utopia e talvez seja de fato, mas tem dado muito certo. Em 2019 completa 100 anos e tem espalhado por todo o mundo através de suas escolas e universidades muitas sementes, que sentem, pensam e fazem o mundo de forma mais criativa, humana e justa.   

Estudando a Antroposofia me reconectei com o design que me habita e que quero dar para o mundo. Me alegro em hoje compartilhar com vocês um pouco do que aprendi. 
Feliz 2019!
Artigo de: Angélica Lira, mãe do Guido e da Letícia, Designer Gráfica formada na UnB, com Pós graduação em Design Estratégico no IED/IESB e também com formação em Pedagogia Waldorf pela 4º turma do curso de Formação em Pedagogia Waldorf de Brasília.

Para saber uma pouco mais sobre a Pedagogia Waldorf: http://faculdaderudolfsteiner.com.br/faculdade-rudolf-steiner/historico

Extraído de Adegraf

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